Os dias que
antecederam este dia foram lentos, arrastados e cheios de imprevistos, tudo
conspirava para dar tudo errado, mas incrivelmente nos dois dias anteriores
tudo deu certo para pegar a estrada com tranquilidade.
Arrumei a
bagagem entre o final da tarde e o começo da noite de sexta-feira, e fui dormir
antes das 23:00hs, acho que pela correria dos últimos dias acabei dormindo
rápido e com o despertador do celular aos gritos me acordei as 3:50hs da
madrugada.
Fui direto ver o
tempo, e a previsão se confirmou, estava com cara e jeito de chuva, e bastante
frio.
Rapidamente
tomei um banho e vesti as roupas de viagem, arrumei a bagagem e coloquei a capa
de chuva, e quando tudo estava pronto fui me despedir dos meus filhos que
dormiam profundamente, dei um beijo em cada um e acordei a Cris para me
despedir.
Sai de casa as
4:48hs da manhã e estava escuro e frio, e nos primeiros metros já percebi uns
pingos de chuva na viseira...
Todo aquele
medo, que senti nos últimos dias, do frio que enfrentaria, do cansaço, da possibilidade
de algum acidente, e da saudade que sentiria dos meus filhos e da minha esposa,
como num passe de mágica desapareceram no momento que dobrei a esquina de minha
casa rumo a meu destino desconhecido.
Sai pela Av.
Central de Atlântida, lugar muito movimentado no verão, havia uma festa em um
pub que estava finalizando, vi gente saindo cambaleantes pelo álcool e p elo cansaço.
Segui em frente e a chuva se apresentou com intensidade, peguei a RS407 e nos
primeiros quilômetros fui em uma velocidade mais lenta, como sempre tenho
costume, aos poucos fui aumentando o ritmo, e rapidamente estava na BR101, abasteci
no primeiro posto de combustível e com calma verifiquei toda a bagagem, ali fui
indagado pelo bombeiro para onde eu iria, respondi e vi que ele não entendeu
nada...
Segui pela BR101
e depois pela BR290 (freeway) a chuva me acompanhou até a altura de Santo Antônio
da Patrulha, nessa altura já andava acima de 110 km p/h. Logo cheguei ao pedágio de Gravataí e a chuva
voltou com força, segui no mesmo ritmo e rapidamente cheguei a ponte sobre o
rio Guaíba, a minha esquerda ficava para traz as luzes de Porto Alegre que
ainda dormia, a chuva apertava e o transito aumentava, ônibus e caminhões
acelerando, o dia não amanhecia, era quase 7:00hs e não clareava, muito pela
chuva e o tempo fechado.
Pensava no horário
que devia estar em São Gabriel para encontrar o Rodrigo, e isso me preocupava,
com a chuva baixei a velocidade para não correr riscos... Parei em Butiá para
abastecer e colei meu primeiro adesivo, descansei um pouco e segui, estava sem
café ainda e preferi tocar a viagem. Quando sai do posto de combustível andei
dois ou três quilômetros e parou de chover, logo o asfalto estava seco e
aumentei meu ritmo e a viagem começou a render, parei para abastecer novamente
pouco antes de São Gabriel, e as 9:58hs cheguei no trevo de São Gabriel, parei
no posto de combustível e fui direto tomar um café, estava muito frio e minhas
mãos estavam molhadas.
Pouco depois,
por volta das 10:05hs chegou o Rodrigo, enquanto ele abastecia sua moto, fiquei
tomando meu café quente e pensando na viagem.
Nos
cumprimentamos e cada um perguntou pela sua família e pelo trajeto até ali,
ficamos uns 15 minutos conversando e resolvemos partir.
Saímos com chuva
e frio, que cada vez aumentava mais, nosso destino Uruguaiana, andamos cerca de
150km e senti minha moto bambear a traseira, parei e vi meu pneu traseiro no
chão, como levei um compressor de ar rapidamente, e debaixo de muita chuva,
enchemos o pneu e seguimos, isso se repetiu mais uma vez, e na entrada de
Alegrete achamos uma borracharia.
Consertamos o
pneu, perdemos quase uma hora, e seguimos viagem, o tempo alternava entre muita
chuva com frio, e pouca chuva com frio, pouco depois das 13hs estávamos em
Uruguaiana, procuramos um amigo que providenciou o câmbio de reais por pesos e
a carta verde para cada um de nós. Tomamos um café e conversamos um pouco com o
Alexandre e se despedimos agradecidos a ele e seu pai Sr. Catarino.
A chuva e o frio
nos acompanharam tanto na chegada como na saída de Uruguaiana.
Chegamos na aduana,
que fica já em solo Argentino, do outro lado do Rio Uruguai, era pouco mais de
14hs, nossos receios de encontrarmos problemas na aduana não se confirmaram,
foi tudo rápido e sem perguntas.
Seguimos em
direção a Ruta 14, passamos pela entrada de Passo de Los Libres e paramos em um
posto de combustível para abastecermos, e como boas vindas o bombeiro deu uma
lavada de gasolina no tanque da minha xt66, fiquei na hora indignado, mas como
vi que o cidadão não mediu esforços para lavar o tanque, acabei levando na boa.
Pegamos umas
dicas de como pegar o caminho para Corrientes, já era passado das 15hs.
O frio apertava
e a chuva fina e persistente deixava a estrada escorregadia, o que fazia
pilotarmos com muito cuidado.
Seguimos e
chegamos a Mercedes/AR no final da tarde, era 17hs e a noite já se apresentava,
resolvemos dormir por ali mesmo, foram 870km para mim com chuva em quase a
totalidade. Minha moto fazendo inacreditáveis 16 km p/l.
Mercedes se
apresentou como uma cidade acanhada e com poucas opções de hotéis, pegamos um
bem simples, pagamos 400 pesos para duas pessoas sem café da manhã, guardamos
as motos, e fomos descansar, o cansaço pela pilotagem na chuva era grande.
Saímos para
comer algo e tomar uma cerveja, fiz contato com a família e logo fomos
dormir.